segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Portão

Ela passava os braços pelas grades do portão, olhava o céu pálido, seu olhar refletia como um espelho castanho qualquer coisa que visse, era um sinal de tristeza, refletia o mundo como um lago espelhado de lagrimas que não caiam por sua face, mas estavam lá. Esperava que o tempo passasse e levasse suas presses aos ouvidos bondozos de algum ou alguma deusa alheia, de qualquer religião, apenas esperava que aquele desejo se realizasse. Estava usando um vestido branco de algodão, bem fino e macil que facilmente asvoaçava ao vento, ficava brincando coma pronta de uma tira dele que amarrava-lhe a cintura com um laço em quanto observava o movimento sutil das nuvens alvas, observando elas se juntarem, talvez fosse chover, mas o céu brilhava candidamente no mundo, fazendo com que seu vestido branco também brilhasse, e ela brilhava com ele, um situl conforto para uma alma melancólica. Nos ultimos tempos ela buscava esses sutís confortos como forma de manter-se tranquila e animada, dava certo, por poucas vezes tentara chorar, porém não vertera nenhuma lágrima, não conseguia mesmo desejando com intensidade, e não havia quem chorasse por ela, também era uma questão de honra não chorar pelo motivo que a deixava um pouco mais triste do que sua realidade, sabia que era algo praticamente imutável. Imutável... Ela aprendera o quanto aquela palavra poderia ser uma mentira, mas uma mentira sólida que custava desgastar-se como as rochas à beira do oceano (água mole, pedra dura, tanto bate até que fura), e em sua cabeça tecia poesias e palavras bonitas, analizava seu porquê: só haveria poesias e palavras bonitas sendo tecidas suavemente dentro dela se houvesse algum sentimento que gerásse essas palavras; pensava num trecho de musica: "Without you, the poetry within in me is dead" ("Sem você, a poesia dentro de mim está morta"), que narrava um pouco do que sentia. Algum poderia pensar nela como "pobre garota", mas não deveria, ela não gostaria e tão pouco permitiria, a tristeza era grande e forte dentro dela, porém, só olhando com muita atenção e análise poderia vê-la nos doces olhos castanho-escuros dela, por dentro também não deixava a tristeza dominá-la, estava pensando nos detalhes bonitos que via ao som de musicas boas e que tinham um significado todo especial à ela, e alegrava seu dia, a deixava forte pra dominar qualquer dor naquele momento, de noite sabia que talvez não teria mais esse controle sobre as dores, mas não iria abaixar a cabeça por nada. Pensando em todas essas coisas, em um sorriso, em um beijo morto que morria em seus lábios sem ser lançado mesmo que ao vento com a possibilidade de encontrar quem ela gostaria de entregá-lo e na fita violeta que estava amarrada em seu pulso, desamarrou-a do pulso e amarrou no portão e logo entrou para se deitar e ler contos amargos de pessoas piores que ela. Um rapaz que passou por aquele portão viu a fita, segurou-a e sentiu o aroma de Anís-Estrela que se encontrava nela e deu-lhe um beijo, deixando a fita violeta esvoaçando ao vento. Eles se amavam... Porém, nunca se viram...

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